quarta-feira, 29 de abril de 2015

A QUARTA CAMADA - DOIS LEÕES

- 17 -

Os guardas gritavam do outro lado, o estranho homem usava um apito estranho soando alto onde tomávamos banho de sol e eu estava ainda na terceira chave sem sucesso para abrir aquela maldita porta e ainda sem saber exatamente o que encontraria lá dentro depois de entrar.
- Ouça! Gritou o homem que freneticamente segurava a cadeira na grande porta de ferro pintada de vermelho.
- Eles estão parando, parece que estão fugindo de medo e algo estranho está fazendo um ruído do lado de fora, será ajuda?
- Este é um grande amigo, em breve tudo estará resolvido do lado de fora, não se preocupe!
- Finalmente! Gritei satisfeito em ter aberto a porta. Assim que eles me ouviram se ajuntaram ao redor da porta enquanto eu forçava a maçaneta para abrir, no fundo todos queriam saber o que havia lá dentro mesmo que muitos tivessem medo do que iriam descobrir. Ela finalmente abriu, e assim que entrou ar dentro da sala sentimos como que se houvesse uma atmosfera diferente naquele lugar, como se estivéssemos entrando num quarto, quarenta anos atrás. As paredes estavam pintadas de cinza como antigamente, segundo Juarez aquela era a segunda pintura do prédio desde que chegaram aqui, os vidros da báscula aberta pela metade já estavam encardidos de amarelo pela poeira e falta de limpeza, não fazia sentido um homem comum sobreviver dentro destas condições.

Numa das paredes um quadro negro torto mostrava algo como uma tese a respeito do termo “terra” e “desolação”, li rapidamente seu texto em um idioma mais antigo o que me soou como: “Quando ‘terra’ aparece nos escritos seguidos do termo ‘desolação’, ele se refere a toda criação, não apenas um povo ou uma época, e sim a toda criação, portanto, fugir não é o caminho, pois onde quer que vamos ele estará lá, por que ele mesmo criou todas as coisas… ou saímos desta criação destinada a desolação, ou estamos sujeitos a toda regra e ordem que tal palavra pode carregar…” Mais tarde pude entender o que aquelas palavras expressavam.

No fundo da sala, uma cama mal posicionada exibia um senhor de idade avançada vestindo um sobre tudo pesado azul escuro e uma grande barba branca, estava ali há mais tempo que eu aqui na terra e parecia impressionantemente vivo e saudável, apesar de que as vezes seu corpo gemia ou se mexia como que assustado. Antônio estava ali, seu corpo como que mumificado vivo e seu espírito ainda preso na quarta camada, estávamos com pressa, precisa fazê-lo voltar e não tinha a mínima ideia de como iria realizar tal ato.

Enquanto isso, do outro lado da clinica o estranho homem ajudava outros a abrir a porta, finalmente estaríamos livres, eu já havia me esquecido quanto tempo passara ali dentro e o que significava a liberdade, da sala ouvia gritos de alegria, algumas pessoas simplesmente desistiam de ver Antônio e saiam correndo pela porta dando numa movimentada avenida principal do centro da cidade, Vitória nunca esteve tão bonita nos últimos meses e do lado de fora quem passava não via nada além de uma porta vermelha pesada com um brasão estranho no centro, ao lado de uma loja de eletrodomésticos e outras coisas do gênero, nada que lembrasse uma clínica de tratamento. O terrível plano de prender pessoas que se destacavam da sociedade por saber algo mais estava apenas começando a se desfazer, quantas clinicas mais existiam espalhadas e tão bem escondidas como aquela? Pensava enquanto olhava para aquele senhor deitado na minha frente. De repente, passos de bota pesadas sobre o piso e um grande rugido soou atrás de mim, senti os pelos da minha nuca se levantando com tanta força que me dobrei para ver o que estava acontecendo. Parado na porta, a menos de dois metros de mim havia nada menos que um grande leão, sua boca ainda estava vermelha devido ao sangue que imaginei ser dos guardas que a esta altura fugiam com medo ou foram pisoteados pelos detentos. Não pude expressar meu susto com aquela cena, o homem estranho deu três passos em minha direção, o leão se levantou também e meus joelhos tremeram.


- Bom trabalho Scott! Disse estendendo a mão em minha direção…
- O que está acontecendo? Como um leão deste tamanho atravessou a cidade inteira até aqui? E porque você tem um leão?
- Você precisa ser muito crente para entender o que aconteceu Scott, mas vou lhe contar de forma breve e direta… fomos feitos juntos, no mesmo laboratório e ambos adoramos e servimos o mesmo Deus que está com você hoje aqui… 

(palavras do escritor: Deus pode salvar qualquer um? E uma pessoa que foi criada em laboratório? Pode chegar ao conhecimento de Deus e ser considerada como "escolhida antes da fundação do mundo"? - Não perca o próximo capítulo -Devair S. Eduardo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário