sábado, 26 de setembro de 2015

QUARTA CAMADA – FASE 2 – A FUGA

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Não consegui distinguir quanto tempo passamos dentro daquela falsa clínica de recuperação, nem sabíamos o que havia acontecido de fato no mundo externo. De dentro daquele lugar só podíamos ver o céu, e o sol, sempre queimando e nos deixando aos poucos loucos de verdade. O fato que rapidamente notei foi que, aquelas pessoas presas, eram quase sem exceção pessoas com algum nível avançado de conhecimento cultural, especialmente o conhecimento da religião cristã. Havia ali alguns poucos loucos de verdade, mas não sabíamos se eles haviam entrado ali assim ou o tempo deu conta do recado. O fato que me intrigava, mesmo com toda surpresa da quarta camada e tudo o que víamos e vivemos foi que as pessoas que estavam presas eram justamente aquelas que poderiam de alguma forma contribuir para um crescimento maior e mais sadio, seja em suas igrejas ou onde quer que estivessem inseridas, o fato de haver ainda um baita leão respirando em minha direção tomou meu pensamento e me trouxe de volta ao que estava acontecendo.

O tempo estava correndo e não podíamos mais ficar parado, algo soou como um alarme na do lado de fora e notamos que em pouco tempo aquele lugar estaria infestado de policiais e guardas da tropa vermelha, tínhamos de sair dali o mais rápido possível. Na porta havia um homem desconhecido, um leão com marcas de sangue espalhadas pelo focinho, que me encarava com seus olhos enormes, vermelhos e pulsantes. Do outro lado do quarto um velho dormindo, remexia como se estivesse tendo pesadelos e no meio dessa tempestade toda, eu. Passei uma das mãos no rosto tentando aliviar todo o estresse, quando fui tocado no ombro, com o susto me afastei o mais rápido possível ficando encostado na parede observando aquele estranho domador caminhando em direção a Antônio.

- Não se preocupe Scott, vamos tirar Antônio daqui o mais rápido possível para que corramos menos risco de ser alcançados pela tropa vermelha.
- Quem são vocês? Porque tenho esta sensação estranha de que você está me escondendo muita coisa além de um nascimento em laboratório?
- Simples meu caro, não é uma sensação, eu ainda não lhe contei nada. No momento precisamos fugir o mais rápido possível deste lugar. Amanhã será mais um dia para nós e não podemos perder mais tempo, aliás, meu nome é K3265832134 e este parado na porta é T569313571, pode nos chamar de K32 e T56. Disse enquanto sorria e abaixava ao lado de Antônio, colocou uma das mãos sobre a cabeça  dele e então fechou seus olhos como se estivesse se concentrando.

- Este homem está preso na quarta camada há muito tempo, não podemos acordar ele aqui. Olhou para mim por um instante. – Me espere por um momento Scott… - e ficou mudo novamente…

Do lado de fora viaturas começavam de fazer barulho, o tempo finalmente havia terminado e Antônio do nada despertou. Não podia andar novamente teve de ser carregado por K32 enquanto com uma das mãos me puxava, ainda estagnado pela surpresa, para fora daquele quarto. Nos escondemos ao lado da porta de entrada enquanto esperávamos o momento certo para sair correndo e quando fizemos isto mal tivemos tempo de nos esconder atrás de um caminhonete parada a poucos metros do local.

O centro de Vitória estava totalmente e estranhamente diferente. Haviam carros velhos jogados pelos cantos enquanto a avenida princesa Isabel parecia morta em poeira e as luzes dos prédios piscavam nas poças de lama. Alguém desceu rapidamente da caminhonete, correu em nossa direção segurando Antônio pelo braço. Não pude ver seu rosto por que estava coberto com uma espécie de máscara de pano escuro, refletia bastante as luzes fracas dos postes e das antigas placas piscante, assim seu rosto ficava escondido nas sombras.

- Vamos, entre no carro. Disse a moça levantando Antônio enquanto K32 olhava em volta tentando encontrar uma solução para algum tipo de problema.
- Nos encontramos no local combinado, não demore… e traga ele em segurança – disse apontando pra mim. Antes de partir, K32 se apoiou na janela do motorista, conversaram algo e após alguns instantes ele jogou pra mim duas espécies de módulos.

- Encoste-os ao lado da sua coxa, um de cada vez, depois pressione o botão vermelho cinco vezes. Vamos Scott, não temos muito tempo! Gritou ele do outro lado.

Ao pressionar cinco vezes aquele botão, uma caixa lateral ao módulo se soltou, o módulo se entrelaçou a minha perna e dois pequenos amortecedores se encaixaram, um perto do pé e outro ao lado do joelho. Não entendi muito bem no início, mas ao caminhar senti como que estivesse pesando 10% do meu peso. Não tive tempo de verificar o que de fato aconteceu nas minhas pernas, o carro saiu em disparada deixando uma pequena nuvem de poeira entre eu, K32 e T56 e ao fundo as luzes vermelhas da Tropa aproximando cada vez mais.

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