domingo, 31 de julho de 2016

QUARTA CAMADA – O INÍCIO DA MISSÃO – A CAMADA ZERO [PARTE 2]

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Caímos sobre um chão duro e áspero devido às pequenas pedras. Eu diria que apenas eu caí, pois o anjo ao meu lado pousou silenciosamente ao meu lado. Senti meus joelhos tremerem com o impacto e demorei um pouco para me levantar. Limpei minhas mãos dos pequenos cascalhos que a marcaram sem olhar onde estávamos, enquanto isso notei que o anjo estava em silêncio, numa postura diferente de tempos atrás quando estávamos no templo.

O ar era seco, estava escuro e ventava muito. Foi quando ouvi pequenos pingos caindo no chão e levantando o rosto levemente vi que estavam caindo perto de uma espécie de tora de madeira, eram pingos de sangue e estavam formando um circulo em volta dela, estava tão surpreso e atônito com o que poderia ser que fixei meus olhos na base da madeira fincada no chão durante algum tempo antes de criar coragem de me levantar.


- Levante-se escravo, não quero ficar muito aqui com você… odeio esse local e esse espaço de tempo…
Pus-me de pé, e meus olhos ficaram rente aos joelhos sujos e machucados do nosso Senhor Jesus Cristo. Não tive coragem de olhar em seu rosto. Mesmo que momentaneamente morto eu estava abaixo de um Deus, o som das pessoas correndo após um trovão me distraiu e então a placa que estava acima de sua cabeça caiu a poucos centímetros dos meus pés, o que me fez dar dois passos para trás e ver, mesmo que sem querer, o rosto ainda abatido de Jesus, o Cristo.
- Estamos… no momento da morte de Jesus, o Cristo… por quê? – perguntei virando-me para ele.
- Foi aqui, e nesse momento que Ele venceu essa guerra de uma vez por todas. – ele parou por um instante com uma expressão difícil de definir e fixou os olhos em Jesus. – Estamos aqui para que você veja como ele morreu, e como foi real o que está descrito no livro que o anjo Aion fez você ler enquanto estava preso naquela armadilha que criamos.
- E você é obrigado vir aqui comigo, para ver o dia da sua derrota…
- Apenas uma vitória… ele selou os seus eleitos e poucos daqueles que não estavam em seus planos… acha que a história termina aqui? Lembre-se de que viemos de séculos de distância daqui.
- Ele selou alguns dos que não estavam em seus planos? Isso quer dizer que ele, que Deus pode mudar de ideia?
- Olhe para essa cruz e me diga o que ele não pode fazer?
- Vamos sair deste lugar, odeio essa parte da cidade…

Olhei em volta para ver o que encontrava mais. Além de uma grande multidão correndo de um lado para o outro havia rachaduras no chão por toda parte, começamos a passar pelo caminho onde ele havia subido. Havia também um pouco de sangue manchando o chão de terra batida. Tudo estava como eu havia lido tempos atrás, porém agora eu sentia na pele aquele lugar. Passar pelo mesmo caminho fez vir a minha mente como teria sido aquele momento, será que ele teria olhado para mim se eu estivesse lá? Será que eu teria coragem de estar lá? Afinal de contas, porque eu tinha de ver tudo aquilo antes de terminar essa estranha missão? Nestes momentos escuros e frios estas perguntas fazem com que não enlouqueçamos de vez, mesmo assim as respostas demorariam a aparecer…
Estes estranhos acontecimentos se passaram entre o tempo que os dois androides apareceram para me ajudar na fuga da tropa vermelha e o aparecimento no banco sofrendo por influencias de alguns anjos. Não fui avisado, não senti algo antes de tudo isso acontecer, simplesmente aquele anjo rasgou o véu do tempo, sob clara autorização de Deus através do mensageiro Aion e passamos por três estados diferentes, cada um há seu tempo e ocupando uma linha de camada. O simples fato de pensar que tudo isso se encontra em camadas de realidade e a força que nossa mente faria pra entender como desdobrar isso tudo deixaria qualquer humano doido… mas isso não aconteceria com androides preparados para o assunto… e foi isso que aconteceu na próxima visão que o anjo me mostrou. Ainda não sei exatamente quem ele é, sei que nos odeia… e que odeia quem mandou fazer essas coisas também.

Voltamos instantaneamente para o espaço do qual saímos, a mesma nebulosa de cor roseada se movia lentamente dessa vez, aos poucos seu movimento foi ficando maior e estávamos chegando mais perto dela. Era como um sonho, sair da nossa realidade a qual estamos habituados sempre pareceu um sonho, nunca sabemos se estamos sonhando ou vendo uma coisa real e quando estamos dormindo esta dúvida se torna ainda maior. O fato é que, a poucos minutos atrás eu estava acordado, lúcido e fugindo. Agora estamos entrando numa massa de energia tão poderosa que mesmo com a proteção daquele anjo eu começara a sentir algo como que meus membros sendo esmagados, repuxados em todas as direções. Certamente essa seria a última visão que teria naquele dia.

- Onde estamos agora? Estou sentindo muito frio aqui…
- Silencio humano… estamos atravessando uma camada muito profunda. Veja – disse apontando – ali está uma parte do futuro que posso lhe mostrar.
- Aquele… planeta escuro? O que tem ali? – Havia um pequeno planeta escuro contendo algumas luzes no centro, não parecia grande coisa apesar de que qualquer coisa vista do espaço simplesmente parece encantador.
- Este é J7776b, um dos destinos que os humanos encontraram para construir uma base, com nossa ajuda, para num futuro próximo sair do sistema solar e atravessar a linha da realidade definitiva, entrando assim na dimensão neutra…
- E nessa dimensão neutra… onde estaria nosso Deus? Porque fugir para tão longe se ele está em todo lugar?
- A realidade em que o seu planeta está… onde o seu Deus está e onde tudo que conhecemos se esconde não é tudo que existe… a zona neutra se encontra nos limites da criação de Yahweh, daqui em diante você encontra outras criações, outros criadores… o ser humano vai chegar ao limite de tudo que pode ser conhecido…
- E… você pode me mostrar parte dessa zona neutra? – Disse quase que por instinto. Só o imaginar a respeito dessa zona já deve ser blasfêmia contra nosso Deus, mas eu simplesmente não consegui me controlar…

Antes que pudesse pensar sobre o que eu havia escolhido senti uma leve brisa passando pelo meu rosto, ela aumentou instantaneamente e agora o calor do sol queimava o meu rosto, havia ainda sons indecifráveis ao meu redor. Demorei a abrir os olhos porque da ultima vez estava aos pés de Jesus, mas agora eu chegara aonde nunca mais olhos humanos chegariam. Aos poucos deixei o clarão alaranjado do sol entrar em meus olhos. Uma suave brisa corria pelos campos onde eu estava e uma pequena e estranha grama cercava todo o local seguido de árvores estranhas, belíssimas também com troncos finos e galhos cheios de folhas. Uma grande montanha a minha frente tentava esconder um imenso planeta acinzentado descansando no horizonte daquele planeta que certamente não seria a terra.

Eu caminhava pelo campo de grama em tom verde escuro, quase azulado quando notei uma presença entre as árvores num ponto onde a floresta se fechava ainda mais. Gritei chamando achando que poderia ser o anjo, mas aos poucos ia percebendo que aquele formato estranho estava longe de ser aquele anjo e provavelmente ele mesmo não poderia estar onde eu havia chegado, além dos limites da própria criação, onde tudo o que existe foi possivelmente criado por outros seres como o nosso Deus, isso se, tudo que havia ouvido fosse verdade. Na pior das hipóteses eu estava num planeta desconhecido e um dos seus habitantes havia me visto chegar. Ele vestia roupas parecidas com a de um aldeão. Seus braços e pernas eram finos e longos e sua pele tinha uma cor roseada, ou aquele tom era um pastel roxeado bem claro, não pude definir naquele momento. Começou a olhar em volta segurando a gola de sua roupa, seu rosto que antes me acusava mudou para um desespero enorme em instantes e começou a gritar palavras em minha direção como que chorando por me ver naquele lugar. 

Eu comecei a correr dele desesperado por não saber o que estava acontecendo, quando tropecei e cai… para cima, como se eu estivesse caído num vortex temporal. Senti meu corpo girar e aquela sensação sentida perto daquela nebulosa até que eu apaguei…


- Scott… Scott… vamos, temos de sair daqui! Corra!

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