sábado, 19 de outubro de 2013

QUARTA CAMADA – O CÁLCULO PERFEITO

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Antes de chegar ao Aion, preciso voltar um pouco atrás e rever tudo que me ocorreu naquela nova clínica, antes de descobrir o que realmente queria dizer aquelas visões muitas coisas tentaram me parar, me desanimar, mas algo me manteve vivo naquele hospital. Estive muitas vezes entre a quarta e a primeira camada enquanto estive como louco internado num hospital que tratavam todos como loucos, digo assim porque aquele lugar era uma espécie de prisão, da qual nenhum daqueles homens haviam saído antes de mim.

Após minha curta conversa com o doutor Lucas eu apaguei, devido ao remédio que tomava, o qual eu nunca soube exatamente o que era. Estive internado durante muito tempo por ser considerado um perigo à sociedade por aquilo que acreditava e fazia, estive louco por saber o que era a quarta camada, o que implicava conhece-la e como isto afetava minha vida e então descobri que não era o único perdido por saber o que sabia. Até então não havia pessoas me procurando, minha família morava em outra cidade e meus amigos… não tinha tantos assim…

Os primeiros dias foram extremamente intensos, tomava remédios controlados três vezes por dia e no final da primeira semana fui chamado para conversar com o diretor daquele lugar. Estava claro para mim que essa era a realização de toda a visão que tive dentro do hospital, mas com tantos remédios minha fé estava abalada, não via mais a quarta camada com tanta frequência e minhas dúvidas vinham como sombras atrás de mim. Naquele sábado, eu estava sentado perto da mesa, as pessoas caminhavam de um cômodo ao outro como se estivessem procurando alguma coisa, não eram violentos, na verdade eram simples e quietos demais, os poucos que falavam repetiam sempre as mesmas coisas e eu ainda não tinha conhecido ninguém naquele lugar. Até que um deles tropeçou no meu sapato.


- Tire essa coisa daqui, seu doido varrido! Gritou o senhor de aproximadamente cinquenta anos. Tinha cabelos grandes e alvoraçados, estavam ficando grisalhos, mas ainda refletiam um tom avermelhado natural.
- O senhor está fazendo o que aqui, não é tão doido quanto eu? Alias, porque está aqui? Ele levantou e ficou me olhando como se estivesse tentando lembrar-se de alguma coisa… deu um sorriso…
- Eu estava trabalhando naquele projeto há sete anos, era lindo ver aquelas luzinhas brilhando ao meu redor… - não, ele não parecia bem…
- Que tipo de projeto esteve trabalhando?
- Não repita isso alto assim, está ficando louco? As pessoas aqui não podem conhecer o projeto… venha, vamos lá fora que eu explico melhor.

Não tive outra reação a não ser deixar ser levado por aquele maluco, na verdade não tinha mesmo o que fazer e em pouco tempo seria chamado para uma conversar com o diretor da clínica.

- Sente-se aqui… estive durante sete anos trabalhando no Departamento de Ciência e Tecnologia do exército e durante este tempo, em minha base mantive um projeto secreto sob estudo… mas eles não podem saber por que vão lá e quebram tudo!
- Do que se trata esse grande projeto secreto? Já tinha caído na onda dele mesmo, então não tinha mais o que perder…
- Obtive acesso aos mais potentes computadores do exército e então os levei a uma base isolada, lá coloquei alguns para calcular como seria o futuro, na verdade eles não só calculavam, mas mostrariam como era, ou este era o plano principal… testei diversas combinações, os computadores usavam diversas fontes de dados sobre a natureza, o tempo e diversas crenças e então calculava qual seria o futuro certo entre todas as combinações possíveis e disponíveis…
- E qual foi o resultado? Quais combinações eram corretas?
- Havia muitos erros no projeto, eu coordenava todos os dados, mas eles nunca se cruzavam, nem mesmo aqueles dados deixados por grandes cientistas e pesquisadores, nem mesmo as crenças combinavam com algum dos pensamentos científicos… assim que colocava para calcular o computador acusava erro. Eram cinco dos maiores computadores da época trabalhando e nenhum deles conseguiu chegar a um calculo perfeito… até que… certa vez, estava assentado em minha poltrona favorita olhando pela janela a chuva cair… estava pensando em como cruzar os dados para obter algum resultado, minha filha de nove anos veio até mim, sentou em meu colo e me pediu uma coisa que eu nunca mais esqueceria… ela pediu para que eu contasse a ela sobre a história da arca de Noé… quanta saudade eu tenho da minha querida Gabrielle… ele parou de falar e senti que iria chorar em instantes.

Uma das enfermeiras passou em nossa frente e ao ver que ele estava emocionado saudou-me e pôs uma das mãos sobre seu ombro.

- Juarez, não fique assim, sua filha em breve virá te ver… não fique se agarrando a estas ideias… conversamos esta semana sobre estes seus delírios – ela olhou para mim – Ele conta esta história todos os dias e sempre para nesta parte, não dê ouvidos a ele, o diretor irá te chamar daqui a pouco… e então saiu atendendo os outros membros daquela estranha companhia de loucos.

- Juarez, eu gostaria muito de saber o que aconteceu depois. Disse segurando seu ombro. Diga-me, o que aconteceu?
- Eu… eu nunca havia pensado na possibilidade de cruzar os dados bíblicos com os históricos, políticos e demais. Naquela noite eu voltei ao quartel e fui direto a minha base. Fiz todos os ajustes, retirei outras ideologias religiosas e deixei apenas os da bíblia, dos apócrifos e alguns textos isolados em conjunto com a história, os pensamentos de alguns filósofos e dados sobre tempo e liguei os processadores. As máquinas acusaram que seriam necessárias duas semanas para o término do processo. Voltei no tempo certo, o processo havia terminado e na tela o computador exibia uma mensagem indicando que a imagem estava pronta para ser transmitida através dos monitores oculares. Coloquei os óculos e mandei iniciar a transmissão do que seria o futuro através dos cálculos feito pelos computadores a partir de todos aqueles bancos de dados e o que vi foi simplesmente inacreditável…
- Conte-me logo Juarez, o que você viu? Estava estranhamente interessado naquela história e sinceramente, ou eu estava mesmo ficando louco ou aquele homem era o mais sábio daquele lugar, o que não me faz entender o motivo de sua estadia por ali, a não ser que fosse realmente loucura o que estava ouvindo com tanta precisão e coerência entre suas palavras.
- Não havia nada… a terra havia desaparecido, as estrelas estavam todas no mesmo lugar, mas o sol e a lua também tinham sumido… após isto eu adiantei mais o tempo, mas o resultado foi o mesmo… não havia futuro na terra e por algum motivo ela tinha sido tirada de lugar, foi então que comecei a estudar mais sobre a bíblia e então vim parar aqui…

- Juarez, o que você fez foi incrível! Você lembra a data estipulada no projeto? Para que ano o computador calculou tudo aquilo?


- Senhor Scott, é a sua vez, o diretor precisa falar com você agora! Disse uma enfermeira pendurada na porta da sala do diretor…

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