sábado, 5 de outubro de 2013

QUARTA CAMADA – LOUCURA

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Após aquela visão acordei com muita dor de cabeça, consegui me sentar com a ajuda de uma enfermeira e dois minutos depois pude começar a perguntar sobre o que havia acontecido. No quarto estavam eu e a enfermeira e em outra cama um garotinho de uns nove anos deitado aparentemente dormindo, um apito constante ao lado da minha cama indicava que eu, aparentemente estava vivo.

- Olá Scott, como vai nesta manhã? Consegue me ouvir? Disse balançando a mão para mim.
- Onde estou e como vim parar aqui? Sinto minha cabeça girando…
- Encontramos você caído próximo ao ponto de ônibus da avenida principal, seus pertences estão guardados e te entregaremos assim que ficar melhor. Tome este remédio e descanse mais um pouco...
- Lembro de ter caído de um prédio, acho que estava no quarto andar…
- Descanse Scott, você está muito cansado ainda, sobre sua queda seria impossível sobreviver a quatro andares, alias não havia prédio com quatro andares onde você estava, assim que descansar voltamos a conversar, preciso mais algumas informações sua. Nome de pai, mãe, esposa…
- Quem me trouxe até aqui?
- A senhora Carolina nos ajudou até aqui, mas nestas três semanas não pudemos encontrar muito sobre você, por isso peço que descanse mais e nos conte mais tarde. Tenho que atender outros pacientes e daqui a pouco eu venho acompanhada para conversar melhor com você.


A enfermeira saiu do quarto, caminhou por algumas salas e chegou à sala do diretor, médico especializado em psiquiatria…
- Bom dia doutor Júlio. Tenho boas notícias a respeito do paciente Scott, ele está bem acordado nesta manhã…
Júlio abraçou-a pela cintura puxando para próximo de si e sorriu de forma sarcástica para Marie, enfermeira e amante. Deslizou uma das mãos sobre seu quadril e olhou novamente para o notebook aberto em sua mesa.
- O que você está vestindo hoje? Perguntou tentando alguma coisa…
- Não temos tempo para isso doutor, precisamos terminar com este rapaz… quem sabe depois poderemos conversar melhor?! Disse apoiando uma das mãos sobre os documentos do paciente aberto sobre a mesa.
- Scott não pode ficar muito tempo aqui, precisamos manda-lo a um centro especializado.
- Foram estas as recomendações do sacerdote para nós, não podemos mais adiar este dia.

- Olá senhor… disse o menino da outra cama.
- Oi. Respondi ainda fraco por causa dos remédios que havia tomado.
- O senhor sempre tem sonhos assim? Perguntou com a mão no queixo.
- Como assim? Quais sonhos você se refere? Comecei a notar que aquelas visões poderiam ter vindo a mim em outros momentos enquanto estava desacordado, ou as teria em parte durante o tempo que estive ali. Estranhava ainda a forma como a enfermeira respondeu quando disse o que realmente aconteceu, mas não quis expor isto para um menino.
- Durante estes dias estive ouvindo o que você tem sonhado e notei que eram os mesmos sonhos, por isso perguntei…
- A quanto tempo estou aqui? Você pode me dar mais informações sobre este tempo?
- Uma enfermeira e um médico tem cuidado especialmente de você e desde que cheguei você tem estado dormindo nesta cama recebendo apenas um remédio, uma injeção. Só isto. Isso deve ter mais ou menos um mês.
- Alguém tem me procurado? Algum parente ou amigo veio me visitar?
- Não...

Enquanto conversávamos a mãe do menino chegou e parou na porta do quarto com uma enfermeira, pude ouvir claramente sua reclamação sobre seu filho no mesmo quarto em que um doido é tratado, algumas coisas ficaram claras para mim a partir daquele momento. Estavam me tratando como um doido porque disse parte de tudo que havia visto e ouvido, lembrei ainda das visões sobre os loucos andando em círculos. A enfermeira entrou com uma prancheta nas mãos anotando o que deveria ser o horário do meu medicamento, após me cumprimentar retirou de seu bolso uma injeção e pediu meu braço para aplica-la.

-Que tipo de medicamento está aplicando em mim? Gostaria de saber, por que esta manhã eu não me sinto mal e acho que posso sair perfeitamente do hospital...
- O senhor sofreu um grave acidente, precisa deste remédio para se recuperar e em breve estará em condições, o doutor Lucas vêm lhe dar maiores detalhes daqui a pouco. Disse aplicando o remédio em meu pulso. O doutor entrou em seguida e disse que o acompanhasse até sua sala.
Sentia o efeito do remédio em minhas veias, minha cabeça começou a vacilar, havia dúvidas, mas provavelmente estava sendo dopado todos os dias desde que cheguei àquele hospital.

- Sente-se Scott, precisamos conversar melhor sobre o que percebemos em você durante estes últimos dias. Como se sente neste exato momento?
- Estou bem, minha cabeça dói, mas não sinto mais os ferimentos devido àquela queda. Estas foram as ultimas palavras que lembro ter dito antes de minha vida ter virado completamente de cabeça para baixo, novamente...

Aion… Aion, onde você está? Preciso que me ensine mais… preciso de você aqui novamente… exclamou dentro do quarto fechado enquanto andava de um lado á outro. A porta estava trancada, a janela estava aberta, mas uma grade fina quase que impedia do ar entrar por ela.
- Coitado, continua chamando por este aion, tenho pena deste pobre homem… Disse uma mulher que observava pela pequena janela de viro da porta.

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